Em 2012, as companhias de aviação brasileira afirmaram que foram afetadas pelas seis pragas do Egito. O ano que para algumas empresas seria o da virada, como para a novata Azul que esperava finalmente ter lucro, foi marcado por fatores exógenos, que, aliados a problemas internos das companhias, fazem de 2012 um dos piores para a saúde financeira das empresas. A Gol, por exemplo, amargou o seu pior prejuízo, cerca de R$ 1 bilhão em nove meses, desde a sua fundação em 2000. Em razão disso, ela ainda trocou o comando: saiu Constantino de Oliveira Junior, fundador da companhia, e entrou Paulo Sérgio Kakinoff, que fez carreira na indústria automobilística.
Dentro desse cenário, o BRASIL ECONÔMICO fez um levantamento dos principais fatores, as “pragas” das companhias, para avaliar o que é real ou simplesmente “chororô” das empresas aéreas para justificar os resultados ruins de 2012.
Redução da demanda
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o ritmo no crescimento do número de passageiros por quilômetro voado, o chamado RPK, vem diminuindo progressivamente. Até outubro, as companhias transportaram 7,24% a mais que o mesmo período de 2011. Em 2012, o crescimento no número de passageiros transportados não deverá passar de 8%. Em 2011, a taxa foi de 15,97%, acompanhando o aumento de dois dígitos nos anos anteriores.
“O mercado doméstico operou com excesso de capacidade nos últimos anos, gerando baixos fatores de ocupação. Em outros mercados, como EUA e Europa, as companhias aéreas operam com mais de 80% de ocupação, enquanto no mercado brasileiro operávamos com cerca de 70%, o que é ineficiente”, disse por meio de comunicado a Tam Linhas Aéreas.
Segundo a companhia, a estratégia é uma maior disciplina para manter índices mais altos de ocupação. “Em outubro, tivemos uma taxa de ocupação de 76%”, ressaltou a Tam.
As empresas reagiram à desaceleração reduzindo a oferta. Em outubro, as companhias disponibilizaram 9,8 milhões de assentos por quilômetros doméstico voado, o chamado ASK, uma redução de 2,13% em relação ao ano anterior.
A Tam reduziu no ano passado em 2% sua oferta e prevê reduzir mais 7% agora em 2013. Já a Gol enxugou em 2,1% a oferta até setembro (queda de 100 frequências diárias), eliminando 2 mil empregos, além dos 850 funcionários demitidos com o fim da Webjet. A empresa dos Constantinos deve fechar 2012 com 17 mil colaboradores, uma redução de 3,5 mil postos de trabalho.
Aumento nos combustíveis
O valor dos combustíveis é o maior vilão do setor, segundo as empresas. Em alguns casos, como o da Gol, as despesas com combustíveis chegam a 46%. Se avaliado isoladamente, é possível notar que a desaceleração econômica ajudou na redução dos preços do barril de petróleo WTI (comercializado na Bolsa de Nova York e proveniente da região do Golfo do México) e também do Brent (comercializado na Bolsa Londres, que tem como referência dos preços do petróleo do Oriente Médio e Mar do Norte). O WTI caiu 13,05% na variação do ano passado, enquanto o Brent teve redução de 2,76% no período. Vale ressaltar, no entanto, que a redução vem sobre uma base alta de comparação dos preços em 2011 e todo o custo é negociado em moeda americana, que apresentou alta em relação ao real em 2012.
A Azul, por exemplo, atribui ao fator combustível/câmbio, o fato de não ter conseguido atingir a meta de seu fundador, David Neeleman, de fechar as contas com lucro no ano passado. A meta agora é empatar as despesas e as receitas. “Não foi um ano bom para nenhuma companhia. Historicamente, uma empresa novata consegue fechar com lucro já no terceiro ano de operação. Foi o que aconteceu com a Gol. O momento não foi favorável para a companhia de David Neeleman”, disse Hugo Tadeu, consultor de aviação e professor associado da Fundação Dom Cabral.
Câmbio
O câmbio é o fator que mais atinge as empresas aéreas, o motivo é que vários serviços da aviação são cotados em dólar, a começar pelo combustível, o querosene, que, tradicionalmente responde por um terço das despesas das companhias aéreas. No acumulado de 2012, o dólar teve uma valorização de 9,43% em relação ao real. A perspectiva é que a moeda americana estabilize no início de 2013.
Novas taxas nos aeroportos
A Medida Provisória nº 551, de 22 de novembro de 2011, criou a taxa de conexão, que passou a vigorar em novembro do ano passado, tirando ainda mais o sono das empresas. O objetivo da tarifa é “eliminar a distorção causada pela ausência de remuneração de uma atividade que pode apresentar custos significativos em alguns aeroportos e colaborar para a viabilidade da infraestrutura aeroportuária”.
As empresas reclamam que não foi possível repassar os custos de R$ 7 por passageiro e que, aliado ao reajuste da Aeronáutica, foi de 150% em janeiro. “É inviável repassar integralmente esse aumento de custos ao consumidor, que ainda tem um comportamento bastante elástico”, disse a Tam.
Concorrência
O ano de 2012 definitivamente marcou o fim do duopólio Tam-Gol, que seu atingiu seu ápice em 2005, época pós-fechamento de Transbrasil e Vasp e em meio a crise da Varig — que viria a ser comprada pela Gol em 2007. De 2008 para cá, a participação da Gol e da Tam reduziu sensivelmente. Ela chegou a ser quase 90% do volume de passageiros voados. Com o fortalecimento das pequenas aéreas e o surgimento da Azul, em 2009, as duas maiores empresas, passaram a deter cerca de 70% do mercado doméstico.
Má gestão
Ninguém admite, mas o fator má gestão é hoje uma das mais agressivas pragas do setor. Um dos casos mais emblemáticos é a fusão Gol e WebJet, que foi comprada em julho de 2011 e teve o seu fechamento anunciado em novembro de 2012. A Gol, na tentativa de aumentar a sua presença em aeroportos chaves, como Guarulhos, e aumentar o seu volume de passageiros,foi atrás da WebJet — até então uma das companhias com alto índice de regularidade e de baixo custo. Depois de concluído o negócio, a Gol percebeu o erro e o quanto era custosa a operação da WebJet. Por exemplo, o custo com combustível era até 30% maior se comparado com os jatos usados pela Gol.
Fonte: Economia IG
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