Com um prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 2012, a Gol encontrou um maneira polêmica para tentar reduzir gastos: a empresa decidiu pagar um bônus salarial para pilotos e comissários de bordo se eles economizarem combustível.
Entre analistas de segurança de voo, não há consenso. Alguns afirmam que o bônus abre um precedente que, no limite, pode levar um piloto a tomar decisões baseadas não só na segurança mas também no que ganhará se poupar combustível.
Outros especialistas, mais a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), dizem não haver risco se os procedimentos de segurança forem seguidos.
A Gol nega risco. Diz que os pilotos são bem treinados e que monitora os voos para detectar eventuais desvios.
Afirma também que, entre economia e segurança, a prioridade será sempre a segurança. E diz que as metas não são individuais (leia abaixo).
Comunicado
A política de bônus foi divulgada por meio de um informe que a Folha obteve.
Datado de 27 de fevereiro, ele diz que a meta é economizar 700 t de combustível por mês. Para isso, seria preciso reduzir em 40 segundos o tempo de cada voo e manter 55,1% dos voos sem atraso.
Se a meta for atingida, a Gol economizará R$ 1,9 milhão por mês, dos quais R$ 820 mil serão divididos entre pilotos e comissários. Isso dá 3,3% a mais no salário mensal, para os pilotos; o primeiro pagamento será em julho.
O combustível é o maior gasto de uma linha aérea. Na Gol, são 43% das despesas.
O resultado, segundo a Gol, poderá ser obtido com algumas medidas, como não acionar o reverso (dispositivo que ajuda a frear) em aeroportos com pistas mais longas, como Cumbica (Guarulhos), se elas estiverem secas.
Um avião é preparado para pousar sem o reverso. Em Congonhas e no Santos Dumont, de pistas mais curtas, o procedimento é proibido.
Os pilotos foram encorajados também a pedir ao controle de tráfego aéreo rotas mais diretas entre um destino e outro, o que acelera a viagem. Nem sempre é possível, em razão do movimento.
Outra ação foi incentivar que o avião desça de maneira mais direta possível da altitude de cruzeiro (12 mil metros) até o pouso. Era comum o avião descer em degraus.
lá fora
Essas ações de economia são aplicadas em outras empresas do mundo todo, como a Lufthansa --sem o bônus.
A empresa alemã disse que não recorre à bonificação por questões de segurança --para não envolver o piloto em uma questão econômica.
As companhias dos EUA tampouco pagam bônus. A Folha consultou a American Airlines, a United, a US Airways e a Southwest.
A Continental, hoje incorporada à United, chegou a fazê-lo entre os anos 1980 e 1990. Abandonou a ideia, entre outras razões, por constatar o mau uso da medida pelos pilotos, como voar mais lentamente ou desligar o ar-condicionado da cabine.
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