Fabricado nos EUA em 1979, um Boeing 737-200 com 110 lugares cruzou o céu norte-americano, voou por uma companhia aérea japonesa e transportou pela Vasp passageiros por todo o Brasil até 2005, quando foi encostado no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, após o colapso da empresa.
Há um mês e meio, o avião, com prefixo PP-SFI, fez sua última viagem. Desmontado, ele percorreu sobre um caminhão os 273 quilômetros entre São Paulo e Araraquara.
No município do interior, o avião "pousou" em uma área de 13 mil metros quadrados que será transformada em um espaço para eventos.
O responsável pela última jornada desse gigante de metal de 33 anos é o piloto Edinei Capistrano da Silva, 58, que comprou o avião da Vasp em um leilão em fevereiro.
Ele quer unir o negócio de locação para festas à paixão que tem pela aviação e, quem sabe, despertar em crianças o mesmo sonho que brotou nele quando ainda era um garoto em Corumbá (MS).
O HOMEM
Em sua cidade natal no interior de Mato Grosso do Sul, Capistrano cresceu tendo contato com a aviação. "Eu morava perto do aeroporto, ia soltar pipa lá, via os aviões, falava com os pilotos. Comecei a pegar gosto", afirma.
Com o apoio do pai, conseguiu, aos 21 anos, iniciar os estudos para se tornar piloto de aviação comercial.
Primeiro, fez a parte teórica da formação, que foi cursada em Campo Grande, capital de seu Estado. Depois, para as aulas práticas de voo, mudou-se para Volta Redonda, no Rio.
Começou a carreira como piloto de voos executivos, transportando fazendeiros e políticos no Centro-Oeste.
No início dos anos 1980, segundo ele, fez parte do grupo de pilotos da TAM, quando a empresa ainda nem voava com jatos de grande porte. Ele afirma que permaneceu na companhia por 13 anos.
Nas últimas duas décadas, após deixar a TAM e até hoje, passou a atuar novamente como piloto executivo.
"A aviação é uma área muito boa. Se eu tivesse que nascer 30 vezes, faria aviação. Para mim, é uma diversão. Você está trabalhando, mas também está passeando. Não tem uma rotina", afirmou.
A MÁQUINA
O 737-200 comprado por Capistrano tem muita história. Apesar de ser um avião com características de uso doméstico, ou seja, para voos dentro do país, tem uma divisão interna com poltronas que atendiam a primeira classe -fruto de uma época em que voar ainda era para poucos e havia status.
Construído pela Boeing em 1979, foi entregue primeiro à companhia Southwest Air Lines. Em 1993, passou a voar com a pintura da companhia japonesa Japan Transocean.
Só cinco anos depois foi integrado à frota da Vasp, onde ganhou a matrícula PP-SFI. Em sites especializados em aviação na internet, é possível encontrar fotos do avião feitas por aficionados em vários aeroportos brasileiros.
Quando a Vasp parou efetivamente de voar, em 2005, o avião foi um dos vários que ficaram abandonados em terminais aéreos pelo país.
Em Congonhas, o PP-SFI foi o único a ter um destino que pode garantir sua preservação. No mesmo aeroporto, ao menos outras oito aeronaves da falida companhia já foram ou ainda serão leiloadas aos pedaços, como sucata.
Quem entra no 737-200 comprado por Capistrano tem a impressão de que o tempo parou desde que o avião deixou de voar pela Vasp.
Praticamente tudo está em seu lugar, dos carrinhos para servir refeições às capas dos apoios de cabeça dos assentos e até os cartões com instruções de segurança nos bolsões das poltronas.
Esse estado de conservação da aeronave pegou o próprio comprador de surpresa.
O ENCONTRO
De acordo com Capistrano, ele só pôde visitar o avião para conhecer suas reais condições depois que já havia vencido o leilão judicial. "Aí foi uma boa surpresa", disse.
Capistrano já gastou ao menos R$ 520 mil com o negócio -foram R$ 140 mil na compra do avião, o dobro disso para desmontar, transportar e remontar a aeronave e mais R$ 100 mil só na preparação do terreno para receber a pesada estrutura.
Até o fim do ano, ele espera ver pronta parte da área de festas com temática da aviação: os salões serão em formato de hangares e os funcionários terão uniformes que remetem a profissões como piloto e comissário de bordo.
A aventura de Capistrano também atraiu outros amantes pelo voo. Um deles é o mecânico Luiz Alberto Tozzetti, 38, ex-funcionário da Vasp e hoje empregado da Embraer, que está ajudando na preparação do PP-SFI. "É um pedaço da minha história."
Fonte: Jornal Floripa
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