sexta-feira, 29 de julho de 2011

‘Aviação é controlada pelas empresas e não pelos órgãos reguladores'

Diretor executivo da associação de vítimas do voo 447 reforça pedido que a Justiça brasileira investigue acidente da Air France.



Desde que o Airbus A330 que fazia o voo 447 da Air France caiu no dia 29 de junho de 2009, matando 228 pessoas, o consultor de hotelaria Maarten Van Sluys viajou 12 vezes para a França. Ele perdeu a irmã Adriana no acidente e passou a integrar a Associação dos Familiares das Vítimas do Voo Air France 447. Desde então, ele divide seu tempo entre a vida particular e uma investigação árdua a fim de esclarecer o que provocou o acidente.
Ao ser informado sobre o relatório do BEA (órgão francês que investigou o acidente) que responsabilizou os pilotos pela queda da aeronave.


ele mostrou indignação. “A mensagem que ficará clara é que a aviação é controlada pelas empresas e não pelos órgãos reguladores”, afirmou. Ele afirma que “todos querem ver a responsabilidade pela queda da aeronave ser levada a cabo”.
De acordo com Maarten as famílias ainda têm esperanças de que a queda do avião seja investigada criminalmente no Brasil. “Protocolamos esse pedido em 2009, mas até hoje não obtivemos resposta da Procuradoria Geral da República”.

A seguir, Maarten detalha um pouco mais sobre o processo de investigação do acidente nos últimos dois anos.

iG: Como o senhor recebe a afirmação do BEA de que a culpa do acidente foi dos pilotos?


Maarten Van Sluys: Já esperava. Relatórios anteriores do BEA davam um indicativo de que essa seria a linha que eles seguiriam. Mas o cerne da questão não é o que aconteceu a partir do momento que o avião começou a cair, mas o que fez o avião cair. Houve congelamento do pitot e uma negligência explícita de não ter sido feita a troca do equipamento. Isso expôs as pessoas a um risco desnecessário. E o avião ter entrado em queda livre foi consequência desse congelamento. Isso atrelado a condições de tempo adversas fez com que os pilotos não conseguissem reverter o quadro, até porque eles não foram treinados para isso.


iG: O que leva o senhor a afirmar que o acidente foi provocado por falha mecânica e não humana?


Van Sluys: Desde o acidente, há dois anos, fiz 14 viagens internacionais. Fui 12 vezes à França e duas vezes à Alemanha, onde já morei por dois anos. Na Alemanha, por meio da Hiop, a associação dos familiares das vítimas daquele país, conheci o professor doutor Gerhard Hüttig, da Universidade Técnica de Berlim. Ele conseguiu recriar o ambiente da aeronave na hora do voo de uma maneira muito próxima a toda situação que os pilotos viveram, e é categórico em afirmar que o relatório do BEA não foi direto ao ponto. Hüttig concluiu que primeiro houve o congelamento do pitot, como todo mundo já sabe, e que em decorrência disso os computadores do avião passaram a enviar informações erradas, ou seja, houve um colapso.
iG: Qual a consequência da afirmação do BEA de que a culpa maior foi dos pilotos?

Van Sluys: Sob o ponto de vista da indenização às famílias não muda nada. Absolutamente, nada. A reposição material da perda não vai mudar em função da responsabilidade. Nesse ponto, advogados, especialistas e seguradoras são tácitos em afirmar. Porém no âmbito criminal muda. Até porque os pilotos acusados estão mortos e não poderão sofrer qualquer consequência. Existe um processo de instrução (provisório) na Justiça francesa. Se o relatório atestar que a Airbus e a Air France não tiveram responsabilidade no acidente correremos o risco de o processo ser arquivado por falta de provas ou inconsistência da responsabilidade criminal. É isso que toca fundo nas famílias das vítimas. Todos querem ver a responsabilidade pela queda da aeronave ser levada a cabo. A impunidade, para nós, seria uma ducha de água fria total. Além de centenas de pessoas terem morrido em vão, essas aeronaves vão continuar voando, a insegurança vai permanecer. A mensagem que ficará clara é que a aviação é controlada pelas empresas e não pelos órgãos reguladores.


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Fonte: IG
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