Nova York - Um ano e meio depois de eliminar o recorde de 4.000 empregos e reduzir voos para conter perdas, a GOL Linhas Aéreas Inteligentes está se tornando o investimento mais lucrativo no mercado de títulos do Brasil.
Os US$ 925 milhões em notas da companhia aérea retornaram 15,9 por cento neste ano, cinco vezes a média de ganhos em mercados emergentes. Os títulos da GOL com vencimento em 2023 saíram dos níveis de estresse pela primeira vez em nove meses, pois o rendimento extra exigido pelos investidores para preferi-los aos títulos do Tesouro americano caiu abaixo de 10 pontos porcentuais em fevereiro.
A decisão do CEO Paulo Kakinoff de reduzir a força de trabalho da GOL em 20 por cento e eliminar centenas de voos desde que assumiu a chefia, em julho de 2012, ajudou a reduzir as perdas pela metade no ano passado. A maior linha aérea do Brasil disse em 28 de abril que seus aviões voaram com 76,1 por cento da sua capacidade coberta no último trimestre, a taxa mais alta desde 2006, o que ajudou a compensar uma alta nos custos do combustível.
“Com certeza eles alcançaram o objetivo”, disse Roger King, analista na CreditSights Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “Há muito por fazer, mas a nova gestão realmente mudou as coisas para melhor. Eles reduziram custos, e isso provavelmente seja o mais importante”.
Edmar Lopes, o diretor financeiro da empresa, disse que os investidores estão começando a dar crédito à GOL por mostrar “progressos mesmo num cenário que ainda apresenta desafios”.
‘Trabalho diário’
“Não há uma solução pontual”, disse ele em entrevista por telefone de São Paulo. “É o trabalho diário. Os investidores precisavam de um pouco de tempo para verem que a nossa reação é duradoura, e que estamos em um novo patamar de operação”.
As perdas líquidas da empresa se reduziram para R$ 797 milhões (US$ 356 milhões) em 2013, de um recorde de R$ 1,5 bilhão no ano anterior. Os lucros antes de juros, impostos, depreciação, amortização e renda em relação à receita total, ou a margem Ebitdar da empresa, subiram para 17 por cento em 2013, frente a 3,2 por cento no ano anterior, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Custos fixos menores permitiram à GOL impedir que aumentassem os gastos excluindo o combustível em relação aos quilômetros voados por assento disponível no ano passado, apesar de uma desvalorização de 13 por cento do real.
Os títulos da GOL, com nota B- da Standard Poor’s e Fitch Ratings, seis níveis abaixo do grau de investimento, têm o segundo melhor desempenho entre os títulos de empresas de mercados emergentes neste ano, somente atrás do provedor mexicano de telecomunicações Axtel SAB, mostram dados compilados pela Bloomberg. As ações da empresa operadas em São Paulo cresceram 36 por cento neste ano, o terceiro melhor desempenho entre 73 ações no índice de referência do Brasil, o Ibovespa.
Perspectiva de crescimento
A GOL transportou 36 por cento dos passageiros domésticos no primeiro trimestre, somente atrás da TAM Linhas Aéreas SA, a unidade brasileira do Latam Airlines Group SA, com sede em Santiago. A GOL também está tentando aumentar sua participação no mercado internacional e seus ativos recebíveis em dólares para se proteger da volatilidade do real. A empresa transportou 15,5 por cento de todos os viajantes internacionais brasileiros em fevereiro, frente a 12,3 por cento há um ano, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
A GOL tinha o recorde de R$ 3 bilhões de caixa no final de 2013, equivalente a 34 por cento da receita líquida anual. A empresa reduziu a razão entre sua dívida bruta ajustada e seus lucros, de 37,6 vezes no final de 2012 para 6,9 vezes.
“O desempenho financeiro tem melhorado”, disse George Ferguson, analista sênior de companhias aéreas da Bloomberg Industries. “Gostaríamos de ver uma alta dos fatores de carga acima de 80 por cento para que a empresa tenha um desempenho similar ao de outras companhias aéreas, o que colocaria a GOL em uma posição muito mais sólida”.
Exame
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