A Latam, maior grupo aéreo da América Latina, lança neste bimestre do ano a terceira e derradeira fase do processo que uniu a chilena LAN e a brasileira TAM. Passadas as duas primeiras etapas da fusão - a de aprovação pelas autoridades e a de integração de operações e equipes -, a holding agora quer ganhar eficiência, disse o presidente do grupo, o chileno Enrique Cueto.
Segundo ele, a Latam vai cortar custos, elevar receitas e índices de produtividade. A meta é eliminar 5% das despesas, o equivalente a US$ 650 milhões anuais. O ajuste será gradual, disse Cueto, começando com economia de US$ 100 milhões este ano.
"Quero deixar claro que não nos arrependemos de ter feito a operação", disse o executivo, em entrevista dada na última quarta-feira, em Santiago. "Mas não estou satisfeito com os resultados", sublinhou Cueto, dono de 23% do capital da Latam. Outros 12% pertencem à família brasileira Amaro. O restante está com fundos e investidores de bolsa.
"O Brasil é o terceiro maior mercado doméstico do mundo. É muito importante. Com a fusão, criamos a maior conectividade do continente. Nisso, somos imbatíveis". Mas para que o grupo possa se apropriar dessa vantagem, Cueto diz que será preciso implementar a terceira fase da fusão.
Essa etapa inclui a definição de uma marca unificada para todas as empresas do grupo. "A decisão de operar com uma única marca está tomada", disse Cueto. "Não decidimos qual a marca, mas anunciaremos até o fim do ano", disse. "E não será LAN Brasil".
Cueto disse que os passageiros que voam TAM ou LAN precisam saber que todas as companhias são do mesmo grupo. "Isso não ocorre hoje".
Para o presidente da Latam, ainda há muitos processos duplicados e operações manuais. A companhia vai investir US$ 100 milhões em sistemas para automatizar e acelerar tarefas como atendimento a passageiros, troca de informações entre as aéreas e os programas de fidelidade.
O presidente da Latam reconheceu que nesse processo deve haver demissões, sem revelar o tamanho desse ajuste. Na parte operacional de solo, disse Cueto, a redução vai seguir o próprio ciclo de aposentadorias e pedidos de demissão de funcionários. Entre os pilotos e a tripulação, o executivo aponta que não deve haver dispensas porque o quadro está adequado. Mas na parte administrativa do grupo, o executivo vê cortes.
Cueto disse que esses ajustes poderão garantir até 2018 que a Latam recupere o grau de investimento, perdido em maio do ano passado. Afinal, desde a fusão, LAN e TAM perderam rentabilidade, o que levou ao rebaixamento do "rating" pela agência de classificação de risco de crédito Fitch.
A Latam também espera economizar com aviões mais eficientes. A companhia está investindo US$ 3 bilhões na renovação da frota entre 2014 e fim de 2015. "Em 2018, 80% de nossa frota será composta por aeronaves pelo menos 10% mais eficientes que o que temos hoje", disse.
Os novos aviões já entram na Latam sob o balanço da holding sediada no Chile, onde as demonstrações financeiras são cotadas em dólares. Com toda a frota brasileira transferida para a base chilena, a exposição da holding ao real, que era de US$ 4,5 bilhões, em 31 de dezembro de 2013, vai fechar 2014 em apenas US$ 500 milhões.
O presidente da holding diz que não se arrepende da fusão com a TAM, mas não está satisfeito com os resultados
E essa meta continua mesmo com a volatilidade cambial recente, afirmou Cueto, referindo-se à recente apreciação da moeda americana, que chegou à maior cotação ante o real desde 2005. Ele acrescentou que reduzir a exposição do balanço à variação do real amplia as oportunidades no mercado brasileiro.
O executivo disse ainda que os aeroportos de Guarulhos e de Brasília, após os investimentos feitos pelos operadores privados, podem funcionar mais adequadamente como grandes hubs - pontos de conexão - para integrar as malhas da TAM e as rotas da LAN no Chile, na Argentina, no Peru e na Colômbia. "Podermos criar mais rotas e ter mais flexibilidade", afirmou.
Nas contas da empresa, o novo Terminal 3 de Guarulhos já permitiu à aérea reduzir o tempo médio entre conexões de voos para 90 minutos. No Terminal 2, esse tempo era de 210 minutos.
Cueto disse que os ganhos de eficiência serão necessários para que o grupo possa fazer frente à concorrência das empresas internacionais. O presidente da Latam citou o início da etapa de "céus abertos" no Brasil ano que vem - quando as aéreas americanas poderão criar ou ampliar rotas no país sem limites ou reciprocidades, como é hoje. E também afirmou que as companhias do Oriente Médio são ameaças.
"Não podemos e não vamos ter custos mais altos que os concorrentes", disse Cueto. O custo por assentos-quilômetros disponíveis (Cask) da Latam no fim do segundo trimestre ficou em 6,4 centavos de dólar, ante 6,2 centavos de dólar em junho de 2013.
Antes da fusão, a LAN chegou a ter um Cask de US$ 3,99, em 2008. E estudo feito pela firma especializada em aviação, Center for Aviation, que ajustou o custo medido em Cask por rota média de cada companhia, apontou que a Latam tinha em 2013 um Cask de 11,8 centavos de dólar - acima de Copa Airlines (Cask de 10,6 centavos de dólar), da Avianca (10,4 centavos de dólar) e da American Airlines (8,6 centavos de dólar).
A Latam projeta fechar 2014 com margem de lucro operacional entre 4% e 5%. Antes da Copa do Mundo, a empresa esperava atingir rentabilidade de 6% a 8%. A companhia afirmou que o torneio de futebol afetou a demanda, gerando um impacto negativo no balanço de até US$ 160 milhões. A maior parte desse montante - até US$ 130 milhões - ocorreu em julho, o primeiro mês do terceiro trimestre, cujo balanço será divulgado em 13 de novembro.
O presidente da Latam descartou recorrer ao mercado para captar recursos e reforçar o balanço. Ano passado, a holding levantou US$ 1 bilhão com oferta de ações. Como a família Amaro não acompanhou o aporte, a participação dos sócios brasileiros no grupo caiu de 13,5% para 12%. Segundo Cueto, esse ajuste não altera o poder na companhia. "O acordo de acionistas determina o comando compartilhado", disse.
Valor
ACORDE PARA O SONHO DE REALIZAR UM INTERCÂMBIO
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