sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Avião da Noar caiu por falha no motor

 Uma falha em uma das peças do motor esquerdo do bimotor LET-410 da Noar Linhas Aéreas foi uma das causas da queda da aeronave, em 13 de julho, em um terreno baldio da praia de Boa Viagem, zona sul do Recife, provocando a morte das 16 pessoas a bordo - 14 passageiros e dois tripulantes. As informações foram divulgadas ontem pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).




De acordo com o Cenipa, processo de fadiga em uma haleta levou ao seu rompimento e consequente falha do motor.


Componentes do motor - o disco, onde estão as haletas, e a câmara de combustão - haviam sido substituídos pelo fabricante, a General Eletric (GE), a quem cabe a manutenção do motor, quatro dias antes do acidente, quando veio ao Recife uma equipe da República Tcheca - fabricante do LET-410. As haletas foram trocadas porque havia início de processo de corrosão.


O chefe do Cenipa, brigadeiro Carlos Alberto da Conceição, e o coronel da reserva Fernando Silva Alves de Camargo - responsável pela investigação - conversaram ontem com familiares e amigos das vítimas e, em seguida, com a imprensa, para informar sobre o andamento das investigações que visam à prevenção de novas tragédias.


O brigadeiro explicou que fadiga é um processo no qual a resistência da peça diminui a ponto de se romper. O motivo da fadiga da haleta ainda será investigado, podendo decorrer da fabricação ou da montagem do conjunto - no caso, folga na fixação dessa haleta no conjunto do disco, que contém 50 haletas.


As duas aeronaves da empresa já haviam sofrido problemas de desgaste nos motores. Dos quatro motores dos dois aviões, três (exceto o que apresentou problema no dia da queda) já haviam sido substituídos - meses antes do acidente - porque atingiram um nível de desgaste que exigia a troca.



O LET-410 é certificado para operar com um só motor numa situação de emergência. O Cenipa não explicou porque a aeronave não conseguiu se manter no ar com um só motor, que estava funcionando normalmente. Também não se sabe porque o bimotor não pousou na praia de Boa Viagem, como havia informado o copiloto na gravação da torre de controle.A aeronave decolou às 6h50 do aeroporto dos Guararapes. Cinquenta e cinco segundos depois, o copiloto informou que iriam voltar e que pousariam na pista 36.



Antes da queda do avião, quatro minutos após a decolagem, ele disse que seria feito um pouso de emergência na praia. Mas a aeronave caiu em um terreno baldio, a 100 metros da praia, a 1.740 metros da cabeceira da pista.


FAMILIARES



Dezessete amigos e familiares de oito das vítimas do voo 4986 - que faria o trajeto Recife/Natal/Mossoró - saíram "aliviados" do encontro com o Cenipa. Esta foi a expressão usada por Geyson Soares, irmão do engenheiro da Moura Doubeux Marcos Ely Soares, para definir a conversa, que apresentou o andamento da investigação. Ainda ontem, segundo ele, seria formalizada a criação da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AfavNoar).


Investigações sobre acidente não têm prazo para conclusão



As investigações realizadas pelo Cenipa são acompanhadas pelos Estados Unidos - que forneceram apoio para a leitura do gravador de dados (caixas pretas) - e pela República Tcheca, porque a aeronave foi projetada e construída naquele país. Os dois países poderão inclusive discordar do relatório final do Cenipa, cujas investigações não têm prazo de conclusão.



O brigadeiro Carlos Alberto da Conceição frisou que a investigação do Cenipa busca prevenir novos acidentes. Cabe à Polícia Federal apontar culpados e responsáveis. Por determinação da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), a Noar está com suas atividades suspensas por tempo indetermin ado, desde o dia 17 de julho.


Auditoria realizada na empresa encontrou "indícios de não conformidades nas áreas de operações e de manutenção da companhia, envolvendo descumprimento de requisitos e procedimentos relativos aos registros de manutenção, às anotações técnicas no diário de bordo e aos limites de horas mensal e trimestral dos tripulantes previstos na Lei do Aeronauta".


Fonte: Tribuna do Norte
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